AGUA 18/06
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Igreja no Rio reúne artistas, como Bruna Marquezine, e classifica frequentadores como “Powers”, “Winners” e “Seeds”

Igreja no Rio reúne artistas, como Bruna Marquezine, e classifica frequentadores como “Powers”, “Winners” e “Seeds”
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Na Igreja Mananciais, cultos têm música, roupas finas e máquina de cartão de crédito para o dízimo

Rua Rosauro Estelita, número 607, Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Dentro do condomínio Rio Mar, o endereço indicado no site oficial da Igreja Mananciais como sua sede aponta para a Escolinha Fla. É preciso seguir até o fim da via, contornando à esquerda, para chegar aos fundos da construção. Ali, num imenso campo de terra, estão estacionados nada menos que 265 carros, numa noite de quarta-feira. Houve final de semana em que se podiam contar mais de 300 carros. À margem do estacionamento, enquanto crianças treinam futebol num espaço ao ar livre, de gramado sintético, por trás dele, no entorno do imenso galpão que serve de templo, adolescentes, jovens e adultos se aquecem para o exercício da fé.

Trinta minutos antes do culto das 20 horas, o banheiro feminino está em polvorosa. Os imensos espelhos que cercam as pias de mármore são disputados por moças vaidosas, que capricham na maquiagem e no perfume importado. “Eu me arrumo toda, mas não adianta muito: acabo descabelada e com a make toda borrada, de tanto que choro. Não tem como, é muita emoção…”, disse a lourinha com porte de modelo, partilhando o corretivo e o rímel com a amiga. Questionada sobre a frequência da atriz Bruna Marquezine nos cultos, uma outra me respondeu, desconfiada: “Ela só aparece às vezes… Mas por quê? Você só veio para ver a atriz da Globo? Deus é muito maior!”.

Do lado de fora, aguardando o término da Sala de Oração, iniciada às 18 horas, misturam-se senhoras, pais e mães com bebês de colo, mulheres e homens desacompanhados. O clima é amistoso, íntimo. Um grupinho de rapazes entre seus 15 e 20 anos conversa sobre esporte, cada qual com sua Bíblia debaixo do braço. De calças jeans, tênis, camisas de times de futebol e moletom, dividem-se entre os de topete moldado com gel e os com longas e douradas madeixas, no estilo surfista. A poucos metros deles, Eduardo anda de um lado para o outro, ansioso, livro sagrado à mão. “Adoro isto aqui! Venho sempre que posso, porque me sinto acolhido. Parece que essas pessoas são minha família de verdade. Nas outras igrejas que frequentei, não tinha essa energia boa”, ele comentou, sem se prolongar.

Abrem-se, enfim, as portas da igreja. Logo na entrada, a moça bonita recepciona cada fiel entregando um folheto com o resumo dos ensinamentos da noite e as indicações de leitura da Bíblia para meditação. Lá dentro, um espaço enorme, todo acarpetado, em tons escuros. Enfileiradas, cerca de 400 cadeiras estão dispostas no térreo — há outras dezenas delas num andar acima, acessado por escadas à direita e à esquerda do altar. Nele, não há imagens ou símbolos religiosos, à primeira vista. Ali estão demarcados os espaços de bateria, violão, guitarra, baixo, teclado e vocais. Há também um telão, imenso, onde são projetados letras de hinos e trechos da Bíblia mencionados durante a celebração. Como pano de fundo, frequentemente surgem fotos aéreas da cidade do Rio e imagens de água corrente — numa referência insistente ao nome da igreja. Mananciais, não se esqueça.

O culto tem início com uma sequência de músicas com forte carga emocional que exaltam o poder e a bondade de Jesus Cristo. Com vozes potentes, as cantoras Larissa Araújo e Alyene Donasci lideram a banda de sete integrantes que, literalmente, levanta a plateia. Abraçados, os presentes dançam, pulam, gritam como num show animado de rock. Nas canções mais introspectivas, com as luzes mais baixas, fecham os olhos e erguem os braços, em louvor. Alguns aproveitam para fazer vídeos e stories pelo celular, registrando a comoção ali instaurada — foi assim que, em fins do último mês de julho, Bruna Marquezine revelou-se frequentadora do lugar. Vez por outra, os mais viciados em tecnologia são interpelados por jovens com crachás em que se leem as iniciais “TE” — de “Turma Especial”, do Instituto Mananciais, espécie de faculdade religiosa que forma líderes —, pedindo para que não se façam registros. São esses mesmos obreiros que, munidos de fones, se posicionam de pé ao fundo da igreja para ajudar a organizar cada etapa do evento. Se chega alguém estranho ao convívio do grupo, logo se aproximam, oferecendo auxílio.

O jogador Neymar e a atriz Bruna Marquezine, após culto na Igreja Mananciais – Reprodução

A Mananciais se mostra articulada para arrebatar fiéis das mais diversas faixas etárias. Seus ministérios assim se classificam: Kids (os ensinamentos são voltados para a primeira infância), Seeds (pré-adolescentes), Winners (adolescentes), Press Power (jovens), Casais Aliançados (adultos casados) e Sala de Oração (bastante frequentada por idosos). Pelo menos sete pastores se responsabilizam pela coordenação de cada um desses grupos. O batismo de novos membros é realizado numa piscina, localizada na área externa da igreja, que ainda tem um sítio de convivência, no bairro de Santa Cruz, onde são realizados eventos como a Festa Country, que acontecerá no dia 29 de setembro.

Findado o momento musical, um pastor sobe ao altar — não há um líder fixo, mas um revezamento (naquela quarta-feira, o pastor-presidente Ricardo Carvalho encontrava-se em férias com a família nos Estados Unidos. Durante duas semanas, mesmo após seu retorno ao Rio, evitou dar entrevista a ÉPOCA). Ainda na euforia da adoração, é feito o convite à oferta. Cada assento é encapado com um tecido que traz a marca “Mananciais” estampada e uma abertura na parte traseira, com um envelope de “Oferta ao Senhor”. Nele, está impresso um trecho bíblico da 2ª Carta aos Coríntios, capítulo 9, versículo 7: “Cada um contribua segundo propôs em seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria”. O pastor reforça: “Ele nos deu o maior presente, que foi a vida eterna. Você não pode dar seu dinheiro com tristeza”. Quem vai fazer sua doação em espécie acomoda as notas no envelope e entrega ao obreiro na frente do altar. No telão, um aviso: “Máquinas de cartão ao lado das escadas”, para quem pretende doar em crédito ou débito.

O pastor Ricardo Carvalho no palco que funciona num galpão em condomínio da Zona Oeste do Rio de Janeiro – Reprodução

Nesse momento, identificam-se no recinto mais rostos conhecidos do grande público: o dono da Furacão 2000, Rômulo Costa; o funkeiro Nego do Borel; a atriz e ex-assistente de palco do Domingão do Faustão Carol Nakamura e seu ex(?)-namorado, o empresário Steffan Menah; a atriz Dany Bananinha… “É comum aparecer gente famosa por aqui. Nas redondezas, há muitos condomínios onde moram artistas da Globo e da Record. E o pessoal que frequenta a igreja é tranquilo, não importuna”, comentou uma fiel, pedindo para não ser identificada. Dany contou que essa foi sua primeira ida à Mananciais: “Sou muito religiosa e meu amigo sempre me convidava para vir. Senti vontade de conhecer, achei que poderia ouvir uma mensagem legal. E ouvi, valeu, foi bom! Fui criada no catolicismo e frequento muito a missa, também gosto do espiritismo. Para mim, o mais importante é a fé em Deus e se sentir bem ouvindo sempre coisas positivas e tendo paz de espírito. Amém!”.

“Amém”, “Aleluia” e “Yeah!” são expressões que pontuam cada trecho de pregação do pastor do dia. Entusiasmados, os fiéis erguem os braços com os punhos cerrados, em sinal de vitória; aplaudem; trocam o riso pelo choro em questão de segundos; sublinham a Bíblia e anotam num caderninho à parte os ensinamentos do líder religioso; ajoelham-se e oram fervorosamente, como que em transe. O discurso é sempre sobre um Deus bom, que se preocupa com seus filhos e realiza milagres. “Eu não sei qual é sua luta, meu irmão, mas você já venceu. Você não tem vontade de voar, assobiar, gritar, por estar nos braços Dele?”, incentivou a pastora Aline Carvalho, fundadora da Igreja Mananciais ao lado do marido, o já citado pastor Ricardo. Também conhecida como Mama Aline, é uma figura engraçada, carismática e risonha, que estende seus domínios à internet, com vídeos dinâmicos no YouTube em que aborda questões de família e da vida cotidiana. Já de volta dos EUA, Aline liderou o culto em nossa segunda visita ao templo, e seu discurso girou em torno da rápida cura do marido, que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) durante as férias.

Lá se vão quase duas horas de adoração. Um hino animado encerra a noite, agora com a pastora ao microfone. Os fiéis se cumprimentam, com o semblante leve, já combinando a ida ao próximo culto, domingo de manhã. “Se eu não acordar com o despertador, porque o sábado promete, você me liga, hein, brother?”, despede-se o rapaz de seu parceiro de culto, ajeitando a franja. E segue para o estacionamento lotado, dando partida em um carro grande, do tipo utilitário.

Fundada em 2004, a Mananciais tem quatro unidades no Rio: além da Barra, há templos em Campo Grande, Bento Ribeiro e Duque de Caxias. Seu site oficial é estampado por uma foto do casal Ricardo e Aline acompanhado por seus três filhos pequenos e um texto onde se lê: “Acreditamos em uma igreja que é apaixonada pelo Senhor Jesus, que não negocia Seus valores e princípios. Buscando intensamente agradá-lO, e não importando o preço a ser pago, desejamos influenciar todas as esferas da sociedade através da expressão da cultura do Reino de Deus”.

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