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ELEIÇÕES Os jovens estão cansando do ‘mito’ Bolsonaro?

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Pesquisas mostram que cresce a rejeição do presidenciável entre eleitores de 16 a 24 anos

Rio – Segundo levantamento da CNT/MDA, 30% dos que se declaram eleitores do líder nas pesquisas de intenção de voto à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), são jovens entre 16 e 24 anos. O dado pode surpreender muita gente, já que, historicamente,jovens não se identificam com candidatos de discurso conservador. Segundo pesquisadores, a pregação antissistema do capitão é uma das chaves para explicar o fenômeno. No entanto, pesquisas mostram que o apoio dos jovens pode estar enfraquecendo.

“Ele não é acusado de corrupção, como tantos políticos”, diz Lucas de Oliveira, estudante do Ensino Médio, de 17 anos, repetindo um discurso comum entre os eleitores do candidato. A cientista social Esther Solano, da Unifesp, pesquisou as reações dos jovens a Bolsonaro, entrevistando jovens em escolas e manifestações, e viu na ‘estética juvenil’ do candidato os elos com os jovens. “As pessoas descontentes com a política encontram na linguagem lúdica, e até um pouco folclórica do candidato, essa estética juvenil, que conversa tanto com os adultos quanto com os jovens, através de memes e piadas”, diz. “Ele ainda é muito forte na internet, meio em que esses jovens trafegam boa parte do dia”, conclui a especialista, que escreveu o artigo ‘Crise da Democracia e extremismos da direita”.

Thaina Narcizo, 22 anos, estudante e gerente de Produção, diz que o candidato do PSL “se propõe a falar a verdade, mesmo que isso vá prejudicá-lo”. Ela acha que Bolsonaro é capaz de aplicar “penas mais severas aos infratores”.

Patrick Nunes, 18, jovem jogador de futebol profissional, avalia que “o Brasil precisa hoje de alguém com pulso firme”.

A força eleitoral de Bolsonaro entre os jovens, no entanto, mostrou algumas fissuras na última semana. Na pesquisa Datafolha divulgada na segunda-feira, o índice de rejeição do deputado na faixa de 16 a 24 subiu muito, pulando de 41 para 55%. No Ibope, os eleitores mais jovens foram a única faixa etária em que a intenção de voto nele não avançou.

O estudante B.C., de 19 anos – que não quis se identificar por medo de ser repreendido em casa pelos pais, eleitores de Bolsonaro -, admitiu ter mudado de ideia em relação ao candidato do PSL.

De acordo com o entrevistado, ele deixou de ser simpatizante de Bolsonaro porque amadureceu. “Vi que suas propostas, além de não serem de meu agrado, não agregariam para uma melhora do país. A ideia de segurança para o candidato, por exemplo, levaria a uma grande ascensão da mortalidade da população, seja ela de ‘bandidos’ ou policiais”, diz.

Para o cientista político Sérgio Praça, não se trata de uma mudança, por enquanto, decisiva. “É um movimento inicial. Mas talvez seja mais uma questão de gênero. A rejeição entre as mulheres de todas as idades está crescendo. Ele deveria ter adotado uma postura mais moderada para ampliar o eleitorado”.

Sobre o fato de um candidato com posturas conservadoras ter seduzido uma grande parcela de jovens brasileiros, Esther credita às “peculiaridades do caso de Bolsonaro”. “Ele tem uma linguagem fácil, fala a língua da gente, é fácil de entender. E ocupa um espaço deixado pelo vazio de valores”, explica.

GAROTOS ARREPENDIDOS

O primeiro contato do estudante B. C., de 19 anos, com o deputado federal foi em 2013, quando o hoje candidato protestava contra o fato de o Partido dos Trabalhadores (PT) estar há tanto tempo no governo. Hoje arrependido de ter apoiado Jair Bolsonaro, ele conta: “Eu era influenciado pelo pensamento de colegas e também dos meus pais. Tinha a mesma mente extremista que muitos deles possuem. Tinha a visão muito fechada de mundo acerca de questões que não envolvem apenas política. Hoje, creio que Bolsonaro não conseguiria controlar a crise pela qual o país está passando.Seu conceito de abordagem é muito ultrapassado e extremo para alguém tão importante como um presidente” finaliza B.C.”.

“Os movimentos de rua, como MBL, Vem Pra Rua e o próprio deputado Jair Bolsonaro foram muito felizes em catalizar esse descontentamento com o PT, sobretudo com o governo Dilma, em apoio político, através de uma linguagem divertida, como os memes”, diz Sérgio Praça, pesquisador da Escola de Ciências Sociais da FGV.”No final, acaba até sendo bom para a democracia que exista um candidato como o Bolsonaro. Se ele vai ganhar, é imprevisível. O segundo turno é outra eleição”, diz.

Para a cientista política Esther Solano, independente do fenômeno Bolsonaro, “a crise política vai se estender após a eleição, porque não existe a curto prazo um projeto que possa garantir uma aproximação dos cidadãos, em especial os mais jovens, da política institucional”.

*Sob supervisão de Dirley Fernandes

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